terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Um livro comum

Tenho uma raiva terrível de textos absolutamente caretas que as pessoas vão respeitando por imitação e sem questionar.

Um trecho de "Homem comum", de Philip Roth, em que se descreve o cemitério onde o pai do protagonista foi enterrado:

"Nas sepulturas de crianças pequenas e recém-nascidas - e não eram poucas, embora menos numerosas que as de mulheres que haviam morrido na faixa dos vinte anos, muito provavelmente de parto - encontraram uma ou outra lápide encimada pela escultura de um cordeiro..."

Acho bonita a imagem dos cordeiros nas lápides. Mas o que é essa digressão sobre as mulheres que morreram de parto? Nenhum personagem estaria pensando nisso naquele momento. De maneira nenhuma eles poderiam observar essas lápides, porque a cena não oferece nenhum detalhe. A fatalidade do parto é uma informação completamente externa ao livro, e além disso não é novidade pra ninguém.

Se fosse apenas uma frase mal escolhida num livro cuidadoso... mas o texto é tão comum que me cansa. Ao mesmo tempo, me descansa. O estilo é tão igual a tantos outros livros que a leitura não exige esforço e é útil de noite quando preciso dormir.

Esse estímulo à preguiça, me parece, é o motivo de admirações que às vezes se pretendem literárias.

Resta a figura simpática do pai e de Phoebe, ex-mulher do protagonista. Talvez salve o livro, mas acho pouco.

6 comentários:

silvana tavano disse...

oi Sabina,
Também estou lendo esse livro. Ainda não terminei, mas, além do pai e de Phoebe, acho que o protagonista tem muitos bons momentos. Um deles é a cena da praia, quando o homem "aposentado" (em todos os sentidos) tenta abordar uma garota muito mais jovem: "Tentou o melhor que pôde disfarçar sua ansiedade -- e o immpulso para tocá-la-- e a inutilidade de tudo aquilo -- e a sua própria insignificância".
Sem a pretensão de fazer uma análise literária, acho esse trecho tem ritmo, força, é econômico. De forma geral, o livro tem me contaminado com a angústia do personagem... É mesmo um livro fácil de ler -- você acha que isso faz dele um livro "ruim"?
Silvana

sabina anzuategui disse...

Oi, Silvana
Ainda não cheguei nesse trecho da praia, estou na metade do livro. Além do que mencionei, gosto das descrições de cirurgias e sofrimentos médicos.
Na verdade estou gostando do livro, mas ao mesmo tempo tenho implicância com escritores que vão ficando preguiçosos (como acho que é o caso).
Não tenho nada contra livros fáceis de ler. Meu incômodo maior é com o hábito de não questionar certos escritores só porque são nomes reconhecidos.

silvana tavano disse...

Não conheço Roth tanto assim --acho que só li Complexo de Portnoy, e há muito tempo... Mas Concordo 1000% com sua colocação sobre os "reconhecidos e inquestionáveis": bom exemplo disso é o último livro de Ian McEwan -- acho que li só uma resenha honesta sobre "A Praia", se não me engano na Entrelivros. Achei o livro chato, arrastado, foi um esforço ler até o fim.
beijo, silvana

Anônimo disse...

Espero o tempo q for...rs.
Mas, comentando seu post, normalmente não me dou bem com autores de língua inglesa, principalmente os americanos.
Bom final de semana (é q demorei pra responder e já é quinta né)!
Bjim.

Rachel Souza disse...

Não li esse livro,portanto não posso opinar,mas concordo com sua crítica, acho importante "desrespeitar" alguns mitos e ler com menos reverência,até para entendê-los melhor.
Bjo.

sabina anzuategui disse...

Também acho que boa parte dos mitos são criados para comodidade dos jornalistas.