Hoje fiz a matrícula no doutorado. Estou realmente pasmada com os textos que tenho lido por causa disso. Alain me deu uma coletânea de artigos em homenagem ao trabalho de Roberto Schwarz. Eu já havia lido e gostado de "Um mestre na periferia do capitalismo" - mas agora, mais velha, certas idéias me parecem bem mais fortes.
Antes eu não sabia quase nada sobre história e literatura no Brasil, e o livro dele teve uma função basicamente informativa. Agora essas idéias me fazem reavaliar muitas outras coisas que aprendi recentemente, mas me pareciam confusas (idéias que me pareciam erradas mas eu não entendia por quê).
Durante o Carnaval, Alain insistiu novamente na idéia de que eu revisasse o texto de "O afeto", transformando o tom de memória num texto mais atual, que a narradora, ainda criança, estaria escrevendo enquanto a história acontece. Por um momento achei que ele tinha razão, e imaginei várias cenas que poderia escrever se mudasse o estilo da narrativa.
Mas hoje, ao sentar para escrever, enfrentei a primeira frase. O parágrafo que eu precisava revisar era este:
"No último dia de aulas da quarta-série, tivemos bolo e amigo-secreto com a professora. Ouvimos discos que trouxemos de casa, as carteiras estavam desarrumadas e muitos alunos já tinham deixado a sala. Nossa professora conversava no corredor com Verinha, a professora da outra turma. No período da tarde estudavam apenas as classes do primário. Éramos os mais velhos da escola, tínhamos respeito dos outros."
Para transformar esse texto em um diário de menina, pensei em fazer frases mais curtas. Por exemplo: "Hoje foi o último dia de aula. Teve bolo e amigo-secreto." Mas de repente me deu uma repulsa desses textos engraçadinhos, com frases curtas e vazias. Parei o trabalho, com sérias dúvidas se devia continuar essa revisão ou não.
Talvez haja a possibilidade de transformar o tom do texto sem alterar o ritmo das frases. Mas será que o resultado vai combinar com uma personagem de 11 anos? Não sei.
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