segunda-feira, 18 de julho de 2016

Uniforme obrigatório

"Vinícius era mais bonito e tinha mais estilo, aos dezessete anos, do que seu pai nessa idade. Talvez porque tenha acompanhado desde o divórcio dos pais, quando ainda estava na pré-escola, uma sequência de namoros, rupturas, reconciliações equivocadas e novos namoros, tanto do pai quanto da mãe, ele na adolescência já tinha postura e comportamento de um jovem adulto. Começou a estudar no colégio Três Rios da Granja Vianna aos quinze anos, na metade do primeiro colegial, quando sua mãe se casou com um holandês e foi morar na Europa. No início ele teve alguns problemas com o coordenador porque se recusava a usar a camiseta branca do uniforme. Ele só vestia roupas pretas. Depois de algumas advertências conformou-se em usar o uniforme obrigatório, com a camisa preta aberta por cima. O colégio Três Rios ficava do outro lado da Rodovia Raposo Tavares e Vinícius ia de ônibus comum às seis e meia da manhã. Ele não gostava do aspecto grandioso e rodoviário do lugar, o estacionamento gigantesco, as filas de ônibus escolares que traziam centenas de crianças dos condomínios da região. Carteiras plásticas nas salas de aula, paredes pré-fabricadas, revestimento sintético no chão. Em sua turma, vinte e oito adolescentes limpos e bem tratados. Vinícius não sentia curiosidade nem interesse por jovens tão saudáveis. Nos últimos meses daquele ano, quem mais o interessava era a jovem professora de química que segurava o pincel atômico com a ponta dos dedos para não se sujar. A pequena professora que estudou no Três Rios desde criança e agora ensinava propriedades coligativas com um otimismo inocente e meio assustado, como se tivesse medo que os alunos a acusassem de ser o que era, uma jovem como eles, protegida por uma vida inteira na Granja."

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