terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Naomi Wolf

"Pegaram dois ônibus para chegar à rua 24 de Maio, no centro. O primeiro ônibus foi mais demorado, uma linha intermunicipal pois a Granja infelizmente não era em São Paulo mas em Cotia. No longo caminho Olívia falou animada do episódio de "Arquivo X" que ela assistiu na noite anterior, "A Guerra das Baratas", muito nojento. Não foi tão bom quanto o episódio dos freaks, mas foi quase, Naomi precisava assistir.

- Já te falei que me recuso a assistir esse seriado. Eu odeio ficção científica.
- Não é ficção científica. É muito mais do que isso.
- É muito tosco você baixando séries antigas. Eu não quero mais ver séries. Só vou ver filmes agoras. Séries são idiotas.
- Eu curto coisas idiotas.
- Eu sei.

Olívia constantemente precisava defender seu gosto pelo mundo trash, os filmes de horror, os efeitos especiais defeituosos. Naomi se recusava a compartilhar certas preferências, detestava que confundissem seu gosto por rock gótico e filmes antigos de vampiro com algumas modas deprimentes, como os emos. Seu nome foi inspirado em Naomi Wolf, escritora feminista, autora do livro "O mito da beleza", que impressionou sua mãe quando estava grávida.

Chegaram na galeria do rock, passaram pelas lojas de tênis de skate no térreo, os cabeleireiros afro, as lojas de reggae, as camisetas e canecas temáticas no primeiro andar.

- Só tem reggae aqui?
- A loja de tintas é no terceiro andar.

Olívia tinha lido sobre tintas num blog chamado "Cherry Bomb", sobre moda e estilo punk lolita. Um dos textos explicava em detalhes todas as marcas de tintas coloridas, como aplicar e onde comprar. Azul Roxfluor, Blue Rox, Ice Metalic, Coral Salmon. Ela e Naomi escolheram o preto azulado para começar. Naomi porque gostava de preto. Olívia porque era mais fácil de manter. Foi uma decisão cuidadosa, porque elas sabiam que o preto era difícil de tirar do cabelo, na prática só raspando ou deixando crescer. Olívia sugeriu pintar o cabelo em casa, era mais barato. Ela viu no blog que a melhor tinta preto azulado era a Koleston, e tinha na Droga Raia, ela procurou quando foi às compras com a avó. Mas Naomi não queria o cabelo manchado de jeito nenhum, pintar em casa só faz sujeira e não fica bom, ela não confiava.

Mariana já tinha sido avisada e não protestou quando Olívia chegou em casa no fim da tarde com a nuca raspada e a franja desigual, com uma mecha bem mais longa que o resto.

- Ficou bonita a cor - ela disse."

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