quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Textos reciclados

Ao final de "O mundo inimigo", de Luiz Ruffato, há uma página explicando quais contos anteriormente publicados foram aproveitados e adaptados ao romance.

Eu me perguntei os motivos dessa explicação. Um senso de honestidade, ou o medo de que reconhecessem alguma passagem, e ficasse no ar a sensação incômoda de repetição, desconfiança de autoplágio ou preguiça?

Creio que Clarah Averbuck ou alguém como ela teve problemas assim.

Eu gosto de reaproveitar textos antigos nos romances. Tenho dois motivos:

- Artigos de revista ou textos de blogs são temporários. Seu tempo passa rápido. No romance, eles ganham uma espécie de vida eterna, situações naquele universo autossuficiente.

- Ao escrever um romance, há o perigo do encadeamento mecânico. Você segue uma lógica narrativa e começa a se repetir. Reler anotações antigas traz flash avulsos para arejar isso.

Um texto antigo, adaptado, raramente fica igual. Às vezes sobrevive apenas uma linha, uma figura de linguagem, uma ideia.

Como neste parágrafo, em que reciclei um artigo escrito para o blog "Vadio amor":

"Aos dezesseis anos acreditava no amor livre. Era anarquista pelo convívio com os skatistas de Osasco, e entre muitas conversas sobre as soluções para os erros do mundo eu defendia que a monogamia era fruto da propriedade privada capitalista, e o amor deveria ser dividido como as terras cultiváveis e os meios de produção. O ciúme era equivalente ao monopólio e a exigência de fidelidade era como a exploração da classe trabalhadora. Nessa época era virgem e nunca tinha namorado. Passados vinte anos, o amor livre continuava uma especulação teórica. Eu havia conhecido ou ouvido histórias de traidores compulsivos, solteiros convictos, swingers, infidelidade consentida, casais que não transam, casais com anexos eventuais, pessoas que desistem de relações românticas para frequentar prostitutas. Mas o amor livre civilizado, declarado e consentido, esse ainda era potencialmente uma lenda urbana."




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