Eu lia, nesse período, duas biografias de escritores que se suicidaram ao fim da segunda guerra mundial. Estava organizando meu pensamento sobre sofrimento e suicídio, num momento de estabilidade depois uma longa depressão finalmente curada. Tentava refletir com distanciamento e resgatar a sensação de profundidade de que sentia falta. A depressão era terrível quando estive mergulhada, mas a estabilidade pode ser indiferente. Não havia, em torno de mim, fatos suficientes para inspirar um suicídio, não havia um horror disperso comparável ao horror da guerra? Havia. Seria grosseiro esquecer isso.
Eu me mantinha estável porque inventaram bons remédios, provavelmente. Alguns anos de psicoterapia, uma série considerável de percepções iluminadoras sobre minha história e comportamento, a aposta idealista no poder transformador da psicanálise, nada disso evitara minha instabilidade emocional frente aos detalhes do cotidiano. No momento da fragilidade, só os remédios me resgatavam. Lendo as vidas dos escritores que morreram sem remédio, eu tentava permanecer sensível e não julgá-los infantis ou incompetentes.
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