Desde minha separação, no começo do ano, tenho pensado muito em relações conjugais.
Quando eu era nova, minha preocupação era apenas "ter alguém". Eram as prioridades: (a) encontrar alguém que gostasse de mim; (b) que esse alguém fosse interessante. Eu nem mesmo precisava "gostar" realmente, desde que me sentisse segura (amada) por alguém aceitável conforme meus critérios flutuantes.
Depois de um primeiro namoro - por sugestão da minha avó materna, e pela experiência de conviver com alguém absolutamente caótico na vida prática - atualizei minhas prioridades, incluindo no item (b) o gosto pelo trabalho. Estavam riscados da minha lista quaisquer pretendentes irresponsáveis, preguiçosos, infantis na vida profissional.
Depois de alguns anos de análise - diante da insistência dos analistas no tema "desejo" - me dei conta da falha surpreendente: por que mesmo eu queria "ser gostada" em vez de "gostar"?
Era a essência da passividade sentimental, que eu suspeitava mas não podia detectar.
Para me defender frente aos analistas, eu argumentava que, sim, eu desejava alguma coisa: mas isso se manifestava nas entrelinhas das minhas escolhas.
Lembro claramente dos momentos em que me apaixonei pelos homens com quem convivi. Os cenários, as situações, os gestos marcantes.
No primeiro namorado, me comoveu a liberdade de se emocionar. O sentimento visível, profundo, exposto. Para uma mente matemática (a minha), foi encantador.
No segundo, a coragem mundana. A agressividade diante das coisas do mundo: relações, viagens, negócios. Para meu temperamento contemplativo, estimulante.
As fantasias sociais se esvaziam ao passar dos anos.
Lar, filhos, família? Hoje prefiro um índice muito baixo desses ingredientes. Um bafo de vermute no dry martini.
Uma amiga me diz: namorar é passear.
Tenho pensado nisso: o que é uma relação conjugal, pra quem não se interessa pelos principais acessórios da instituição casamento?
Compartilhar o tempo livre. Fazer coisas agradáveis nos intervalos que dispomos para escolher.
Tão anos 80. Cindy Lauper, Madonna, new wave, besteirol, la movida madrileña.
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