Acompanhei por jornais e revistas o suicídio de Cibele Dorsa.
Veja e a Folha reclamam da ordem judicial que impediu a menção do nome do cavaleiro Doda. Curiosamente, ambas evocam a censura no período militar.
O período militar é evocado para enobrecer qualquer argumento frágil, numa técnica malandra para desviar nossos esforços de bom senso.
Imagino que qualquer pessoa sensata concordaria que Doda tem razão, ao pedir que não se publique uma carta que o acusa de ter sido "o pior homem", o que "fez mais mal".
Ele não cometeu nenhum crime, até onde se saiba. Seu mal parece ter sido dispensar uma garota bonita, provavelmente vaidosa e insegura, por outra mais feia e rica (muito rica).
Penso nessa modelo de 36 anos, indo a baladas, usando drogas, namorando um rapaz mais novo... sustentada por mesada do ex-marido que casou com uma herdeira milionária e levou os filhos para a Europa.
Nos contos de fada, há histórias da jovem pobre, bonita e sensata, que se prepara com cautela para o dia em que perderá a beleza. Cibele não ouviu essas histórias, ou não acreditou nelas?
Talvez em alguns momentos ela percebesse que sua situação não era ruim: ganhava um bom dinheiro por mês, dinheiro que duraria talvez por toda vida, pois ela nunca deixaria de ser mãe da filha do marido de uma milionária.
Que alguém morresse, que ele se separasse... mesmo assim, agindo com bom senso e sem ofender o lado forte, dificilmente se romperia a corrente de culpas e responsablidades que conduzia a tal mesada.
Mas como ver o que ela era, e esquecer o que ela não era? Não era mais jovem, não era milionária, não era o centro das atenções dos homens, que agora preferiam mulheres mais novas ou mais ricas.
A mulher bonita tem um super-poder aos vinte anos. Depois ela o perde.
Não é fácil perder um super-poder.
Um comentário:
Esse recurso da imprensa brasileira de evocar a censura do regime que ela glorificou até que a abertura fosse uma realidade concreta é triste. E o suicídio em público é uma coisa ainda mais triste, ainda mais quando o que sobra não é nada de transcendental ou insuportável. Ninguém gosta da idéia de que para se matar não é preciso grandes motivos; basta chegar perto da janela, respirar fundo e pular.
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