Às vezes tento lembrar as músicas de que gostava aos dezoito, vinte anos. Quando estou cansada, trazem um ânimo agradável, familiaridade e graça. Ouvindo novamente o que hoje me parece horrível, tenho simpatia pela adolescente que fui, um simpatia distante, como se olhasse a filha de uma amiga.
Durante alguns anos tive a obsessão de encontrar discos do cantor italiano Amedeo Minghi, por causa de um amor perdido, e uma fita cassete emprestada a uma amiga que nunca a devolveu.
Depois, quando ele foi tema de novela e fez shows no Brasil, já não me importava mais.
Minha música preferida era Nené, que dizia:
Ecco, sto pensando a te,
Nenè la mia.
Capire no,
ne dire so
per me che sia.
Forse ti confondo il viso,
creatura mia.
Mi passi e vai
poi torni ancora
poi non ci sei.
Piccina mia,
bambina mia.
Uma tradução aproximada seria:
"Pois é, estou pensando em você, minha Nené. Não sei entender, nem dizer... por mim, que seja. Talvez eu confunda seu rosto, minha criatura. Você passa e vai, depois volta, depois não está aqui. Minha pequena, minha menina."
Eu gostava dessa filosofia de almanaque, que aparecia em todas as músicas do cantor. Um elogio do passageiro, do incerto, da leveza.
No curta-metragem que fiz na faculdade, coloquei a música Mississipi para acompanhar os créditos finais. Ela dizia:
Senza volerlo fai
l'Amore che sperai
senza alcuna ordossìa
come a caso e senza
simmetrìa.
(Sem querer você faz / o amor que espera / sem nenhuma ortodoxia / como por acaso e sem / simetria)
Já mostrei o curta no blog, aqui.
Este é o vídeo de Nené. Talvez eu não gostasse tanto, se tivesse visto seus dentes.
3 comentários:
O cabelo dele parece o do Walter Mercado, aquele futurólogo de araque da TV! Gostei da música e acho que qualquer um que rime ortodoxia com simetria numa canção pop já merece um prêmio. E essa acho que o Renato Russo poderia ter gravado naquele CD de música italiana dele, né?
nossa, faz tempo não lembrava desse disco do r.r. era bonito.
quanto ao minghi, ele tem uma música em que todos os verbos estão no passado remoto... havia um esforço poético, ainda que meio brega às vezes.
Minhas experiências adolescêntes com "música italiana" não passaram de Zizi Possi e Renato Russo. Mas como estes dois tocaram lá em casa!
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