Lindo poema de Francis Ponge no blog de Antonio Cícero.
Tenho O partido das coisas há muitos anos. Comprei entusiasmada pela descrição que vi em algum lugar: um livro do ponto de vista das coisas.
Antes de comprar, perguntei a um amigo francês se conhecia o livro. Ele disse que sim, vagamente: seria próximo de João Cabral, mas Cabral era melhor poeta.
Hoje discordo. Os poemas têm um mistério e uma linguagem estranha. A biografia de Ponge também me interessa: por sua lentidão, pelo que não aconteceu.
A tradução, na edição da Iluminuras, não é muito boa. Tenho preguiça agora de verificar o autor.
Segue o início de Água, em tradução de Fred Girauta. O original e a tradução completa estão aqui.
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Água
Abaixo de mim, sempre abaixo de mim se encontra a água. É com os olhos baixos que sempre a vejo. Como o solo, como uma parte do solo, como uma modificação do solo.
Ela é branca e brilhante, informe e fresca, passiva e obstinada em seu único vício: o peso; dispondo de meios excepcionais para satisfazer esse vício: contornando, traspassando, erodindo, filtrando.
Dentro dela esse vício também brinca: ela desaba sem cessar, renuncia a toda forma a cada instante, tende somente a se humilhar, deita-se de bruços no chão, quase cadáver, como os monges de certas ordens. Sempre abaixo: tal parece ser seu lema: o contrário de excelsior.
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