terça-feira, 11 de maio de 2010

Poeta da pensão

Estou no Rio desde domingo. Reservei um hotel pelo site Submarino e tive uma surpresa ao chegar.

No meu pensamento eletrônico, qualquer hotel cadastrado no site teria um padrão básico, meio Mc Donald's, como a rede Formula 1. Escolhi um baratinho, preocupada apenas com a localização.

Ao chegar no domingo, nas ruas escuras por causa da chuva, quase chorei de desamparo. O hotel ficava num antigo casarão. Depois da recepão coberta de madeira laminada, os quartos se dividiam por um longo corredor, como um pensionato. Ou, num termo mais antigo, uma casa de pensão.

O quarto era pequeníssimo, mobilidado com uma grande cama de casal e um armário de madeira antigo. Não havia espaço para abrir completamente essa porta.

O chão tinha tacos de madeira, provavlemente encerados há décadas sem nenhum polimento. Apesar de limpo, parecia ensebado como a recepção.

Senti um misto de horror e simpatia. Saindo de minha casa arejada e ampla, um instinto animal parecia reagir, alerta, à súbita redução no grau de conforto. Ao mesmo tempo, minha memória literária reconhecia com familiaridade uma lembrança imaginada de escritores modestos, trabalhando como funcionários públicos na década de 1940, escrevendo seus poemas em pequenos quartos de pensão.

Como é emocionante o curta-metragem O poeta do Castelo, de Joaquim Pedro de Andrade, mostrando Manuel Bandeira curvado, com seu terno frouxo, espremido entre prédios de apartamentos.

Lindo filme.

3 comentários:

Rachel Souza disse...

Boa estadia! qualquer coisa,ligue.
Beijo

Paulodaluzmoreira disse...

Maravilhoso o filme!

sabina anzuategui disse...

maravilhoso mesmo.

na mesma série, tem outro sobre gilberto freyre (acho). mas não lembro o nome... mostra os licores caseiros que ele adorava.