Talvez a cena abaixo não se explique sozinha. As frases não são especialmente bonitas, nem o diálogo original.
Mas é curioso que, numa novela sem par romântico como eixo narrativo, o amor se apresente assim: como redenção possível entre a mulher perdida e o homem sem masculinidade.
Jorge Andrade escreve no roteiro que Agenor sai à noite com "roupas extravagantes". Para nosso olhar contemporâneo - e para o ator Rubens de Falco - era um indício claro de homossexualidade.
Mas Jorge Andrade, em suas peças, não fala de sexualidade nesses termos: seu problema é o homem não masculino. O filho sensível, que gosta de arte e leitura em vez de prostíbulos. O jovem que se recusa a matar um animal caçado, e é acusado de pouca hombridade pelo pai, macho orgulhoso (embora falido).
Nas peças, esse confronto com o mundo patrical aparece sóbrio, e historicamente compreensível. Na TV - em provável tentativa de seduzir o público - a fragilidade do filho é exagerada, tornando-se quase patética. Para resgatá-lo da vergonha e da fraqueza, surge a mulher vibrante, sem medo da moral alheia, com seus seios aerodinâmicos.
Isso talvez fizesse sentido para os olhos ingênuos de Jorge Andrade, que em suas preocupações éticas, sociais e históricas, estava muito distante do desbunde crescente em sua época.
Para os olhos atuais - de desbunde reinante - o sonho da regeneração é uma tolice que enternece.
Um comentário:
É uma armadilha comum no entendimento que nós temos hoje daquela época: as imagens de todo mundo pelado rolando na lama em Woodstock é muito enganosa. Quando eu li o Via Crucis do Corpo da Clarice Lispector, considerado "escandaloso" e "pornográfico", capaz de acabar com a carreira de escritora "séria" da Clarice, a gente pensa: putz tanto bafafá só por isso?
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