terça-feira, 26 de maio de 2009

Sófacles

Estou com gripe, sem energia para escrever. Revirando meus arquivos, encontrei as crônicas que escrevi para a revista TPM entre 2005 e 2006. Algumas eram talvez enrolação. Mas há trechos que ainda me interessam:

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"Meu sonho de adolescente era morar num hotel. Um lugar pequeno, claro e neutro. Me parecia que os lençóis de hotel eram sempre feitos de algodão pesado e macio. Eu precisaria apenas de uma máquina de escrever, ficaria tranqüila em meu quarto trabalhando, as refeições seriam servidas sempre no mesmo horário, e uma camareira faria a pouca limpeza necessária. Nos apartamentos em que morei quando solteira, nunca coloquei um enfeite, uma toalhinha bordada, nada que acumulasse pó: somente comprava os objetos necessários, fazendo um esforço mínimo para que combinassem e não chamassem a atenção.

Depois que casei, meu ideal de simplicidade doméstica foi virado de cabeça pra baixo. As paredes ficaram lotadas de quadros, sobre a estante há uma coleção de bondes em miniatura, um avião de brinquedo e uma Branca de Neve sem braços no jardim. Meu marido adora ficar em casa e seu ideal de conforto tem prioridades claras: a primeira coisa que comprou foi um sofá. Não foi uma compra simples: visitou pelo menos seis lojas, sentava em todos os sofás disponíveis, um conforto mediano não era suficiente para ele. Queria o sofá ideal. Quando encontrou o que queria, me levou até a loja para que eu experimentasse também. Sentamos juntos, sentimos o encosto, a densidade das almofadas, a maciez do tecido. Logo que chegou em casa, o sofá ganhou até nome: é o Sófacles. Isso porque somos intelectuais e gostamos de teatro."

(Junho, 2006)

3 comentários:

Paulodaluzmoreira disse...

O sófacles aqui de casa é que merece esse nome. Depois de assistir um filme inteiro sentado nele... minha coluna vira uma tragédia!

Ricardog disse...

Os curitibanos têm um prazer indisfarçado de falar mal da cidade. Pessoalmente, sou fã de carteirinha.

No Rio, minha terra, o povo exalta a cidade mesmo com balas perdidas, arrastões, e Césares Maias.

Vale uma investigação socio-antropológica.

Ricardog disse...

xi..comentei o post errado!