Escrevi um último parágrafo para "O afeto". Embora não goste de finais com excesso de estilo e conclusão, senti que o texto se interrompia muito repentinamente.
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"Talvez seja a sombra da criança que nunca nasceu, filho da moça que nunca conheci. Aos doze anos eu às vezes imaginava, à noite, que a moça procuraria minha mãe e todos iríamos ao funeral do bebê. Chorando em volta do pequeno caixão, minha mãe perdoaria a moça, que sairia do cemitério tranquila e conheceria um rapaz e casaria e seria feliz.
Mas nunca houve o funeral. Meus pais não falaram mais do assunto. Durante muitos anos, antes de dormir, eu repeti em silêncio uma pequena oração, pedindo proteção e alegria às pessoas que amava: meu pai, minha mãe, Diego, Paula e o irmãozinho que não nasceu.
Era um menino, ou quase foi. Um rosto infantil que eu imaginava ao meu lado, sorrindo e dizendo palavras de carinho, quando estava sozinha."
7 comentários:
É, também não gosto de finais com ares de desfecho,de términos. Prefiro os cortes,de preferência bruscos.Gostei do seu.
P.S: Nunca me adicionou aos "favoritos" de seu blog...rs
Gostei.
Achei bonito. Estou no segundo capitulo entao foi interessante ler isso assim, fazendo eco com coisas que ainda estao so indicadas la no começo.
Paulo, fico com vergonha de ter enviado o livro, depois das ultimas conversas sobre Faulkner, Rulfo e Bolaño.
Aliás, fui digitar o nome do último no site da Livraria Cultura para verificar a ortografia, e escrevi "bolaños", insegura. Apareceram vários livros do criador do Chaves e Chapolin, Roberto Gomes Bolaños!
eu ainda estou no começo, mas nao acho que vc devia ter vergonha nenhuma!
gostei dessa possibilidade.
e isso me lembra que preciso lhe escrever.
Ok, poeta sórdido. Mas não se sinta obrigado.
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