quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Regime é lapa

Estávamos quase em Cascavel, vinte minutos para o meio dia. Ele quis almoçar, achei cedo mas tudo bem, tanto faz. Ele anda dizendo que precisa emagrecer então falou em comida japonesa. Em Cascavel? Difícil, em Mendoza ficamos cinquenta minutos num taxi atrás do único restaurante japonês da cidade, na praça de alimentação de um shopping, mas o sushi era feito com atum enlatado e salmão defumado.

Ligou para seu amigo em São Paulo, a mulher nasceu em Cascavel, deve saber. Demoraram para atender, enquanto isso paramos num hotel, desci e perguntei. A recepcionista indicou, feliz, tinha sim um restaurante japonês. No shopping, sempre. Anotou seu nome num cartão e pediu para avisarmos que ela indicou. Mas voltando ao carro o amigo tinha atendido, o cunhado gostava de um lugar na avendia Tancredo Neves.

Fizemos o retorno - estátua de um polegar no canteiro central - contornamos um monumento medonho e encontramos a avenida. Longa, longa, nada japonês. Oficina mecânica do Zecão - não poderia ser, restaurante japonês do Zecão? Loja de móveis Schumann. Schumann comida japonesa? A avenida acaba e nada - apenas uma churrascaria na última quadra à direita.

Parecia vistosa e paramos. Pedi uma tônica diet mas um velho na outra mesa nos interrompeu, mandando no garçom como se fosse seu mordomo particular. Família grande, a mulher usava um lenço preto na cabeça. O garçom voltou para anotar o pedido e seguimos para o balcão de saladas - regime é foda.

Minha mãe não come berinjela em restaurantes. Não confia que as cozinheiras tirem os bigatos. Eu acho bobagem, bicho de goiaba é goiaba, mas olho enquanto como, se aparecer um bigato eu tiro.

Estávamos na mesa, tônica diet, contra filé ao ponto, os libaneses na outra mesa. Falávamos bobagem - eu devia parar de dizer caralho quando fico brava? Consiguiria dizer apucarana? Apucarana! Haveria uma cidade paranaense para substituir foda? Lapa. Namorada fala palavrão e o homem acha bonito, mas depois de casar reclama. Casar é lapa.

Ainda bem que olho antes de encher o garfo. Comi uma fatia fina de picanha suína, grão de bico sem tempero, puxei um alho frito que decorava a berinjela, quando fui pegar a própria berinjela - gostosa, gostinho de casca queimada - vejo perninhas encolhidas, bem comportada mesmo, pobre barata que morreu ali e alguém misturou na salada escura.

Levanto rápido e grito - o que foi? - meu coração dispara, tem uma barata no meu prato, ele olha, o garçom recolhe rápido, penso em voltar ao normal mas ainda não dá - vamos sair daqui, eu digo. A filha do libanês olha pra mim - tem mechas ruivas no cabelo. Pede uma água com açúcar, ela diz. Melhor a tônica - respondo - é de lata.

Saimos pela recepção, bebo um gole da tônica e cuspo num impulso. Depois penso, melhor bochecar um pouco, tem um resto de comida na minha gengiva. Encho a boca e cuspo no chafariz da entrada, pegamos o carro e vamos embora.

5 comentários:

Paulodaluzmoreira disse...

Barata na salada é lapa! Como se diz em linguagem de dia de semana em Minas Gerais: caray de restaurante fé da puta!

júlia disse...

terrível fato mas eu gostei da narrativa

* disse...

"Apucarana" foi ótimo! Vou começar a usar tb! rs

Unknown disse...

Taih...adorei a narrativa da amiga, humor MARAAvilhoso, criatividade 10.
Hoje eu e meus 4 amigos saímos de nossa cidade 40 km distante e também fomos a Cascavel com a mesma idéia, de comer no restaurante japonês...mesma coisa da amiga acima...sabíamos da existência de um restaurante na mesma avenida que narradora comenta... apenas que só ficamos na idéia de chegar à churrascaria e resolvemos continuar tentando, quando descobrimos que paralela àquela avenida havia uma outra em sentido diagonal que poderia ser a correta...fomos observando e bingo chegamos onde era para ser o tão procurado restaurante, infelizmente agora é uma imobiliária... ainda assim paramos num posto de gasolina no centro, para saber onde ficaria outro restaurante já que existiam outros, no posto ninguém soube responder...depois de tantos pedidos de informações sem êxito, resolvemos ir à outro estabelecimento, contrariando ao grupo todo que queria muito comer comida japonesa, e não chinesa como nos deram alguns endereços... fica para a próxima. Decidimos pesquisar no google para acertar em outra ida pra cascavel...foi onde encontramos o relato acima...muito interessante.
quem encontrou o relato primeiro foi minha amiga Chiba.

sabina anzuategui disse...

pois é, cascavel é uma cobra perigosa.