Um trecho de "Breve carta para um longo adeus", Peter Handke:
"- Cometi muitos erros com a criança - disse Claire... Não queria que ela se portasse como dona do mundo, ou como se aquilo que lhe pertence fosse o mundo todo. Queria evitar que se apegasse aos objetos, porque acreditava que a educação americana fortalecia ainda mais essa tendência para apegar-se aos objetos. Não lhe comprava brinquedos, apenas a deixava brincar com coisas destinadas a outra finalidade, como escovas de dentes, potes de pomada de sapato, utensílios domésticos. Ela brincava com elas, depois ficava olhando sem se aborrecer quando eram usadas. Mas se outra pessoa também quisesse brincar com elas como ela fazia, não as queria dar, e portava-se como se fossem brinquedos comuns. Então acreditei que estava realmente desenvolvendo aquela mania de posse, e tentei convencê-la a entregar tudo à outra criança que quisesse brincar. Mas ela se agarrava aos objetos, e como eu ainda o interpretasse como desejo de posse, tirei-lhe tudo. Só mais tarde notei que provavelmente ela se agarrava àquilo de medo."
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