quinta-feira, 13 de março de 2008

Frouxamente atados

Ontem foi minha primeira aula no doutorado. A disciplina se chama "A obra de Machado de Assis e sua recepção crítica". O professor, Helio Guimarães, explicou o método do curso e os romances que devemos ler durante o semestre: Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Memórias Póstumas, Quincas Borba e Dom Casmurro.

Li "A mãe e a luva" há dois anos, quando estava muito deprimida e passava a tarde encolhida no sofá. Passada a depressão, tenho uma boa memória dessas horas de leitura em que me sentia quase outra pessoa, porque não escolhia os livros como escolhia antes, ia apenas procurando um depois do outro na estante do meu marido.

De todo o romance, só lembro de uma longa cena em que um rapaz observa a moça na casa vizinha:

"A primeira cousa que Estevão pode descobrir é que a vizinha era moça. Via-lhe o perfil, em cada aberta que deixavam as árvores, um perfil correto e puro, como de escultura antiga. Via-lhe a face cor de leite, sobre a qual se destacava a cor escura dos cabelos, não penteados de vez, mas frouxamente atados no alto da cabeça, com aquele desleixo matinal que faz mais belas as mulheres belas. O roupão - de musselina branca - finamente bordado, não deixava ver toda a graça do talhe, que devia ser e era elegante, dessa elegância que nasce com a critaura ou se apura com a educação, sem nada pedir, ou pedindo pouco à tesoura da costureira...

Estevão, da distância e na posição em que se achava, não podia ver todas estas minúcias que aqui lhes aponto, em desempenho deste meu dever de contador de histórias."

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Acho importante esse último parágrafo. Mesmo que o estilo seja desajeitado, se relaciona com o que escrevi sobre "Homem Comum", de P. Roth.

4 comentários:

Emerson Wiskow disse...

Opa. Vim conhecer o blog. fiquei sabendo dele através do blog da delfuego. texto limpo. gostei.
abraço

sabina anzuategui disse...

Olá. Bem vindo.

júlia disse...

gostei demais do texto do m.coelho que você me indicou. principalmente o parágrafo entre presença e dom e as formas de retribuição generosa,
sua escrita neste blogue tem disso, generosidade, que é uma falta de receio, também, uma escrita honesta, obrigada,
curioso é que eu tive aula com o hélio, na graduação, não só sobre o machado, mas inclusive,
coincidências!

beijo grande,

sabina anzuategui disse...

Ah, nunca sei se devo responder aqui ou no blog de quem comentou...