Em 1996 fiz duas disciplina no curso de Editoração da USP. "Redação editorial", com a professora Maria Otília Bocchini, e "Edição de livros populares", com o professor e editor Jiro Takahashi.
O primeiro curso era baseado em exercícios de redação para enciclopédias, livros didáticos, jornais e revistas. Uma lição me marcou: o coração da frase é o verbo. Adjetivos e advérbios podem ser acrescentados ou eliminados conforme a necessidade de aumentar ou diminuir um texto.
Nessa época comecei a escrever frases curtas, quase resumidas a substantivos e verbos. Praticamente não usava conjunções complexas, porque não queria estabelecer uma relação única entre os elementos da frase. Preferia apenas ordenar as idéias com "e", "antes", "depois".
Em vez de dizer:
"Elisa encontrava afeto nos cachorros porque sua mãe era distante."
preferia dizer:
"A mãe era distante e Elisa encontrava afeto nos cachorros."
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Eu não percebia que usava os adjetivos de forma bastante banal. Na primeira versão do texto "O fogão explodiu", escrevi esta descrição de um personagem:
"O pai de Raquel tinha um bigode, um bom rosto, e olheiras fundas. Homem de 1 metro e 65, pouco mais. As batatas da perna eram fortes, a postura boa - não era curvado."
Na revisão que estou fazendo agora, me pareceu estranho mencionar sua altura precisa tão precisamente. Deixei apenas:
"Meu pai tem um bigode que já está meio grisalho. Ele é forte mas não muito alto. Está um pouco barrigudo também."
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Entre várias mudanças, mudei a narração para a primeira pessoa. Quem narra é Raquel, uma garota órfã.
O primeiro título do livro era "Aquele foi um ano terrível mas teve as noites mais lindas". Havia uma moda de títulos longos na época.
Depois reduzi para a cena que inicia a história: o fogão explode.
O título me pareceu mais direto, e além disso adoro a palavra "explodir".
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