sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mais um capítulo pulverizado

A redação deveria ter vinte linhas. Escrevi contando as palavras, corrigindo muito, a folha ficou rabiscada e tive dificuldades para medir o tamanho do texto. O caderno tinha linhas estreitas, por isso minha letra ficou menor. Quando terminei de passar a limpo, faltavam quatro linhas e meia.

"Fui assistir um filme no Memorial da América Latina. Depois tinha debate com um jornalista, que era professor aqui. Eu gostei do que ele falou, então procurei o site da faculdade e liguei pra perguntar o preço. Meu pai se ofereceu para pagar a mensalidade até trezentos reais, enquanto eu procuro um emprego. Mas aqui custa o dobro. Meu pai e meu irmão vão ajudar no primeiro semestre, se não conseguir a bolsa ou emprego vou parar. Pra mim é difícil escrever, talvez tenha escolhido o curso errado. Não sei como passei no vestibular. Todos dizem que é difícil e acham que são gênios por que passaram. Mas eu passei, e não entendo como eles são gênios se eu não sou."

Pensei um pouco, pulei uma linha e completei:

"O filme se chamava O rap do pequeno príncipe contra as almas sebosas. Era um documentário. Esqueci o nome do diretor."

Depois percebi que havia escrito "por que" errado. Corrigi e entreguei.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Uma modificação do solo

Lindo poema de Francis Ponge no blog de Antonio Cícero.

Tenho O partido das coisas há muitos anos. Comprei entusiasmada pela descrição que vi em algum lugar: um livro do ponto de vista das coisas.

Antes de comprar, perguntei a um amigo francês se conhecia o livro. Ele disse que sim, vagamente: seria próximo de João Cabral, mas Cabral era melhor poeta.

Hoje discordo. Os poemas têm um mistério e uma linguagem estranha. A biografia de Ponge também me interessa: por sua lentidão, pelo que não aconteceu.

A tradução, na edição da Iluminuras, não é muito boa. Tenho preguiça agora de verificar o autor.

Segue o início de Água, em tradução de Fred Girauta. O original e a tradução completa estão aqui.

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Água


Abaixo de mim, sempre abaixo de mim se encontra a água. É com os olhos baixos que sempre a vejo. Como o solo, como uma parte do solo, como uma modificação do solo.

Ela é branca e brilhante, informe e fresca, passiva e obstinada em seu único vício: o peso; dispondo de meios excepcionais para satisfazer esse vício: contornando, traspassando, erodindo, filtrando.

Dentro dela esse vício também brinca: ela desaba sem cessar, renuncia a toda forma a cada instante, tende somente a se humilhar, deita-se de bruços no chão, quase cadáver, como os monges de certas ordens. Sempre abaixo: tal parece ser seu lema: o contrário de excelsior.

sábado, 24 de julho de 2010

Mais Materialismo Dialético

Voltei a escrever meu livro adormecido. Não fiz entrevistas como havia planejado, nem me dediquei muito à qualidade da redação. Só imaginei algumas cenas, porque é mais fácil pra mim escrever assim. Os parágrafos compactos me cansam.

O texto está no meu Blog do B.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Noites brancas

Estive na biblioteca da Funarte, do Rio, buscando roteiros de Vianinha para a televisão.

Esta é uma adaptação de Noites brancas, de Dostoiévski, exibida em 1973, com direção de Ziembinski. Segue a sinopse, segundo o Dicionário da TV Globo:

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"Um rapaz romântico e sonhador encontra uma moça à espera do amado, no parapeito de um cais. O namorado não comparece ao encontro. Acreditando-se abandonada, a moça acaba se envolvendo com o desconhecido. Passadas quatro noites, o namorado reaparece."

sábado, 17 de julho de 2010

Jeremias, o bom

Por algum motivo aleatório, ontem lembre de Jeremias, o bom. Eu lia o exemplar de meu pai quando era criança. Tinha uma espécie de verdade mágica, para mim.

Quando estiver mais sossegada, vou digitalizar minha charge preferida: uma festa de adultos com as crianças no quarto ao lado.

domingo, 11 de julho de 2010

Primeiro sutiã

Não procurei a família de Jorge Andrade, quando comecei minha pesquisa. Um professor me aconselhou a fazer entrevistas depois da qualificação, quando a tese estivesse esboçada, para não disperdiçar o tempo de ninguém.

Agora, se for possível, ajudaria muito. São 2.500 páginas de roteiro e a leitura segue lentamente, pois a cada consulta preciso reservar um horário no Cedoc da TV Globo. Conheço os nomes das filhas, que vi em jornais e num documentário.

Procurei pelo Google, e encontrei essa notícia curiosa:

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Por onde anda Camila Franco?


Há quatro anos afastada do cotidiano da publicidade, Camila Franco coloca seu know-how criativo a favor do público infantil.

É inevitável falar de Camila Franco e não lembrar do filme "Primeiro Sutiã", criado pela W/Brasil (na época W/GGK) para a Valisère, em meados dos anos 80. A jovem redatora da agência, então com 22 anos, foi responsável, junto com Washington Olivetto e Rita Ferraz, por um dos dois únicos comerciais brasileiros que estão no livro Os 100 Melhores Comerciais de Todos os Tempos, do especialista em marketing Bernice Kanner.

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Mundo, vasto mundo.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Éramos hippies?

Meu pai organizou algumas fotos de família.

Esta é minha avó, quando eu era pequena:



Meu pai, meu irmão e eu:



A bolsa já diz tudo.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Azeda assim

O comentário da Tata me lembrou de um poema que escrevi na faculdade. Nunca fui sofisticada em poesia. Mas busquei minha pasta de textos antigos, aí está:

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"Desde que eu tenho o direito de ficar triste,
eu só queria que me deixassem:
quietinha e triste.

Eu olho o dedo do meu pé com essa unha tão pequena,
minha barriga dói um pouco,
vou chorar um pouquinho, sentar aqui quietinha,
porque eu posso,
digam que eu posso.

Eu só queria que minhas costas não doessem,
que minha boca estivesse limpa e
não azeda assim.
Eu só queria:
eu queria um pequeno colinho onde eu pudesse me encolher.

Eu tenho o dedo do pé tão pequeno,
tenho o coração encolhido,
porque eu não sei se posso,
não deixam, eu não sei.

Será que vão deixar?
Eu queria só saber,
queria saber se eu pudesse,
se talvez deixassem que eu pudesse."

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Todos os meus conhecidos

Vale a pena escrever sobre nossos rancores banais? Tenho um sentimento de exclusão recorrente, quando vejo no jornal alguma notícia sobre escritores de minha geração. Principalmente os que considero fracos. Penso: o que fiz de errado? Que problema é esse que não consigo identificar, que me deixa fora de editoras e jornais, enquanto outros se estabelecem?

Talvez não seja muito original, mas sempre gostei especialmente do Poema em linha reta, de Fernando Pessoa.

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. (...)

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. (...)

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!"

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Conheci o poema num disco do Patife Band, que ganhei de meu pai.