quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Pai Herói

Lição de escrita: 1) Nunca desperdice o potencial brega de uma história.

"Na casa onde cresci em Osasco, eu, minha mãe e meu pai passamos inúmeras noites assistindo a novela das oito. Quando eu tinha onze anos assistimos a “Pai Herói”. Para mim Toni Ramos e Elizabeth Savalla eram as pessoas mais lindas que existiam.
Minha mãe seguramente não imaginava que vinte e cinco anos depois, numa terça feira à noite, eu estaria sentada num confortável sofá americano, assistindo a um programa de culinária na TV a cabo, ao lado de uma mulher branca nascida na Aclimação, com quem eu vivia em união estável havia dez anos. A linda Agnes, a realização de meu sonho infantil, a minha Elizabeth Savalla."


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Raras e comoventes

A revisão do livro de Melissa está exigindo bem mais do que eu planejava no início. Resolvi mudar uma questão básica: a narradora na primeira versão não estava apaixonada por Melissa. E agora está. Isso significa criar uns parágrafos sobre amor, para um livro que eu preferia já ter acabado. É como acender um fósforo molhado. Mas vamos lá, força no isqueiro.

Um trecho:

"Nos programas femininos e revistas sobre pessoas famosas, quando uma atriz de novela termina um namoro sempre perguntam: “Você está pronta para um novo amor?”. Elas às vezes estão prontas e às vezes querem se dedicar à carreira. Minha mãe se comovia quando as atrizes boazinhas se separavam. “Coitadinha, parece uma princesa e olha o que aconteceu.” Quando eu era adolescente, as separações das atrizes eram mais raras e mais comoventes.

Eu às vezes me perguntou como me apaixonei por Melissa tão rapidamente, tão perto do fim de minha longa história com Agnes. Eu deveria ter passado meses chorando num quarto escuro tentando esquecer aquela perda terrível sem conseguir. Mas eu fiz exatamente o contrário. Eu embalei no ritmo de Melissa e fiz tudo o que ela quis fazer. 

Os primeiros dias inocentes ouvindo música foram talvez a demonstração que ela precisava de que eu estava ali para qualquer coisa, que topava ficar com ela como quisesse, beijando ou não, lavando a louça ou não, pagando aluguel ou não. 

Na terceira ou quarta noite em que deixei um lençol para ela dormir no sofá, ouvi a porta do meu quarto se abrindo, quando tinha apenas apagado a luz.

- Oi... tá acordada? - ela perguntou.
- Sim.
- Posso deitar com você? 

Ela deitou ao m
eu lado na cama e a partir dessa noite estávamos namorando."