sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A casa de Vinícius

"Olívia parou de responder. Pegou o celular e escreveu uma mensagem:

"Oi, Fava. Queria conversar uma coisa contigo. Posso te ligar?"

Fava era o apelido de Vinícius, abreviação do sobrenome materno, Favero. Enquanto esperava a resposta, ela desceu até a cozinha. Estava vazia. Pela porta dos fundos aberta viu a avó no jardim. O celular vibrou com a resposta de Vinícius: "ok".

Olívia gritou avisando:

- Vó, vou sair!

Inês mal a vira, e ela já estava saindo.

- Vai aonde?
- No Vinícius. Não demoro. Tchau!

Vinícius não morava longe. A casa ficava num condomínio fechado, na Estrada Zurique. Olívia subiu a Avenida São Camilo até a Estrada Bucarest, onde havia um portão secundário. Ela apertou o interfone e esperou apoiada na grade, logo a empregada respondeu e abriu a portinha de pedestres. Olívia seguiu pelas ruas cheias de árvores e palmeiras, as casas esparsas escondidas pelos altos e baixos do terreno e as folhagens vigorosas do verão. Finalmente, depois de subir um tanto, chegou à rampa de entrada, que descia até a casa no declive do terreno. A sala aparecia pela ampla porta de vidro, que estava aberta. Vinícius jogava videogame no sofá. Pausou o jogo quando ela sentou na outra poltrona e disse oi.

- Oi, ele respondeu. - E aí?
- Tranquilo. E você?
- Normal. Na calma.

Os dois não se viam desde o fim das aulas em dezembro. Olívia foi na festa de despedida mas não participou da viagem de formatura. Ele ainda estava com o controle do videogame na mão.

- Se importa se eu continuar jogando?
- Okei.

Ele tirou o som da TV. O jogo era Fallout 3, que ele já tinha fechado, estava só completando algumas missões secundárias. Olívia assistiu um pouco, a imagem estava mais bonito do que ela lembrava.

- TV nova?
- É Led. Meu pai comprou no fim do ano.
- Foda.
- É.

Seguiram acompanhando o jogo mais um tempo, e então ela disse:

- Então, preciso te contar um negócio. Tipo, é uma coisa que eu queria te contar, pra você não ficar puto se descobrir depois.
- Fala
- Aff... não sei como começar.
- Você tá saindo com outro cara ou algo assim?
- Não. É outra coisa. É... Bem, eu fiz uns vídeos pro youtube. É uma coisa que eu inventei, é tipo um projeto feminista. Mas tem uns lances sobre sexo e tal. Eu não queria que você olhasse e pensasse que estou falando de você.
- Você faz sexo nos vídeos?
- Não, é só falado. É tipo umas ideias e opiniões. Eu comecei escrevendo num blog e depois eu fiz uns vídeos.
- Tá, e daí?
- Daí que tem umas histórias de namoro e transas, e eu não quero que você ache que é sobre você.
- Só isso?
- Só isso.
- Eu não vou ver os seus vídeos. Tá viajando.
- Uma jornalista disse que vai fazer uma matéria. Talvez você veja.
- Pode ficar tranquila porque eu não vou ver."