domingo, 27 de maio de 2012

Um olhar

Alguns anos atrás, duas estudantes - Juliana Gola e Amanda Loscardini - fizeram uma longa entrevista comigo. Foi um dos poucos momentos em que alguém parou para me ouvir como escritora (e não como roteirista ou professora). 


Era um TCC. 


Curiosamente, elas não me avisaram quando o texto ficou pronto. É um livro com os perfis de Andrea del Fuego, Ana Rusche e Clarah Averbuck, além do meu.


Ficou bonito, encontrei por acaso em seu blog.



http://umolhar.wordpress.com/


http://umolhar.files.wordpress.com/2010/04/retalhos1.pdf

Lançamento em SP

No próximo sábado, 2 de Junho, das 16h às 19h, será lançado em São Paulo meu novo livro:

"O afeto ou Caderno sobre a mesa" (7Letras)

Será na Livraria da Vila / Lorena - Alameda Lorena 1731, piso superior.

Aproveito para comemorar meu aniversário de 38 anos, que completo dia 1, com os amigos que puderem ir.

OBS: no mesmo dia será lançada a revista Lado7, em que também há um conto meu: "Lésbicas procuram apartamento".

Leitores e amigos, estão todos convidados.



segunda-feira, 21 de maio de 2012

Roteirista e operário

Na última semana andei pensando sobre alguns lugares-comuns que se ouvem sobre "o problema crônico do roteiro" ou a "falta de bons roteiristas" no cinema brasileiro.

Em geral, essas opiniões parecem sugerir que os roteiros de filmes brasileiros, mesmo quando eficientes em relação ao seu público de destino, são menos inteligentes ou elegantes que outros modelos generalizados tomados como melhores (de filmes argentinos, ou seriados americanos, ou outra média qualquer de preferência).

Essa generalização me irrita e nem sempre consigo explicá-la. A raiz de minha irritação provavelmente vem dessa interpretação: se o problema crônico é a falta de bons roteiristas, então a causa seria um acidente demográfico que gerou um país sem talentos para o trabalho?

A causa do problema crônico de roteiro seria a incompetência crônica dos roteiristas?

Certamente não.

Aos dezoito anos eu me considerava naturalmente talentosa para escrever. Acreditava que tinha capacidade e talento para lidar com qualquer dificuldade de composição dramática. Ingenuamente, talvez. Mas meu entusiasmo natural era tão fácil e fluido que eu tinha total confiança em minha habilidade.

Bem: a experiência mostrou que isso não era suficiente.

Os contatos e contratos entre roteiristas, diretores e produtores acontecem por dezenas de motivos, e nem sempre a habilidade de escrever é o fator determinante.

Simpatias, amabilidade, apresentação sedutora, nome, fama, ou simplesmente casualidade. Ser charmoso e falar bem muitas vezes vale mais do que escrever bem.

Há também roteiros que seduzem no papel - porque têm frases bem sacadas e evidentes - e nem sempre são bons. A esperteza no texto nem sempre traduz uma boa relação entre imagens e construção dramática.

A carreira de roteirista de cinema é ingrata: pouco trabalho disponível, pagamentos irregulares, muita concorrência pelas vagas - porque qualquer um pode ser roteirista, a princípio. Atores, publicitários, redatores. É uma profissão de aparente glamour criativo, e muitos se candidatam.

Na maioria absoluta dos casos, a decisão de como o roteiro deve ser vem de cima pra baixo. O dono do projeto - aquele que irá buscar o dinheiro - tem sua ideia do que deseja, e o roteirista precisa se desdobrar pra atender àquela fantasia. Nesse processo, muitas vezes o roteirista simplesmente desiste das qualidades em que acredita, porque o dono do projeto não está disposto a adaptar suas intenções iniciais. Ser roteirista de cinema, no Brasil, é uma prestação de serviços. É uma relação entre chefe e operário. Não é um diálogo criativo entre dois profissionais com igual autonomia.

Aos meus alunos que escrevem bem, eu recomendo que procurem a televisão. Roteirista de cinema, no Brasil, não é trabalho pra quem precisa pagar aluguel todo mês.

E, na televisão, você precisa escrever conforme a demanda da televisão. Se os roteiristas mais experientes, hoje, escrevem de modo "televisivo", como culpá-los?




quarta-feira, 16 de maio de 2012

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Alan Lomax

Em uma entrevista com Robert Crumb, encontro a referência ao arquivo de Alan Lomax.

No site é possível ouvir seus registros de canções de prisioneiros americanos na década de 1940.

“Neighborhood investigation shows him to be a very peculiar individual in that he is only interested in folk lore music, being very temperamental and ornery. …. He has no sense of money values, handling his own and Government property in a neglectful manner, and paying practically no attention to his personal appearance. … He has a tendency to neglect his work over a period of time and then just before a deadline he produces excellent results.” (from the FBI file on Alan Lomax, 1940–1980)

Crumb : “Heureux! Haha! Je ne sais pas ce que ça veut dire!” - Les Inrocks

Crumb : “Heureux! Haha! Je ne sais pas ce que ça veut dire!” - Les Inrocks

Coerção de publicistas

"Em outubro uma enxurrada de solicitações de vários estranhos, para entrevistas e fotografias, motivou Virgina a escrever ao editor do New Statesman, instando com os leitores para resistir à mania de publicidade. Sua carta também pedia a artistas e intelectuais famosos para não permitir que relatos de sua vida privada ou sobre suas personalidades fossem publicados nos jornais, mas que em vez disso resistissem à sutil coerção de publicistas, admiradores e fornecedores de cultura oficial - uma proposta modesta com implicações radicais. Ela admitia que, ao publicar seu apelo à privacidade, chamava atenção sobre si mesma - contradição que refletia sua atitude de distanciamento. Ao mesmo tempo, tentava persuadir-se de que não importava o que os jornais e revistas dissessem a seu respeito, de que resenhas e notícias não passavam de distrações menores, meros "pingos de chuva". Mas sua suscetibilidade as tornava muito mais importantes do que sugere a metáfora."

(Virginia Woolf: a medida da vida, Herbert Marder, tradução Leonardo Fróes. Cosac Naify, 2011, p. 216)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Entusiasmo antigo

A esperança ingênua na palavra "harmonizar".

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"O grande surto de progresso do teatro e do cinema, ligado ao desenvolvimento urbano de São Paulo, abria efetivamente para o escritor nacional novas oportunidades de realizações. Enquanto o romancista necessitava, para se manter, apoiar-se em outra atividade remunerada, dedicando à literatura apenas os seus momentos de lazer - portanto, jamais empenhando na criação a totalidade do seu esforço -, o autor de peças de teatro ou de roteiros de filmes podia fazer da fantasia a sua profissão: ao mesmo tempo em que realizações artísticas eram empreendimentos com possibilidade imediata de lucro, representando a primeira oportunidade de harmonizar o mundo da imaginação com o imperativo profissional."

("Teatro ao sul", Gilda de Mello e Souza, em "Exercícios de Leitura", Duas Cidades, 1980, p. 111)